segunda-feira, outubro 25, 2010

galdérias

Sem querer laborar em erro, 
esta gaja parece-me pouco séria: 
vê-se que se está a rir, não vê?


«Não é fácil ser uma galdéria. Há pessoas que pensam que é fácil, mas não é nada fácil.»

Isto que uma amiga minha me disse hoje à tarde, em conversa amena e banalíssima de café, onde até o futebol entrou, ficou a remoer-me no mais profundo da substância acinzentada da cachimónia.

Chegado a casa e matutando melhor no assunto, não me parece que a minha amiga tenha assim tanta razão: é muito mais difícil ser uma gaja séria do que ser uma galdéria!...

A maioria das gajas sérias, para já, para já, são-no por reconhecida falta de oportunidade; são-no, porque, lamentavelmente, o Criador distraiu-se das suas obrigações e dessa distracção momentânea nasceram aqueles exemplares de refugo que pululam à nossa volta e tão bem conhecemos: rostos de meter medo ao susto, desafortunadas da vida no que respeita a uma voz aceitável nos karaokes, cabelos de cores e texturas impossíveis que provocam pânicos aos cabeleireiros, medidas desoladoramente assimétricas, etc...

Por outro lado, reconhecidamente, as putas parecem anjos caídos do Céu e até parece que Deus lhes dedicou uma atenção especial quando estava a criá-las, dotando-as de tudo aquilo que em menos de um piscar de olhos põe qualquer gajo a piscar os olhos! quer dizer: enquanto o Diabo esfrega um olho já nós estamos a ver como podemos mas é esfregar o delas!...

Por aqui se pode concluir como é fácil ser puta, até porque uma puta está sempre pronta para ser exactamente aquilo que é e para aquilo que nasceu.

Diria mais: uma puta ser puta é assim como haver areia na praia! não se discute nada, não se pergunta nada, deitamo-nos em cima dela e agradecemos a Deus haver coisas assim tão simplesmente perfeitas na natureza.

Por outro lado, e ao contrário, uma gaja séria, se por um momento imaginasse que poderia deixar de o ser, a primeira coisa que pensa em fazer é ir a uma data de sítios para se «preparar». Pensa primeiro em tomar banho e mudar de roupa interior - ela teme, muito naturalmente, que os seus odores do dia-a-dia não sejam os mais apelativos e que a sua «lingerie» quotidiana não tenha aquele indispensável toque de romantismo. Faz marcação num instituto de beleza para se livrar da excessiva pilosidade que lhe cobre todo o corpo, na manicure, pedicure e no cabeleireiro e, no fim de tudo, desmarca o seu encontro sexual porque ficou com as trombas roxas da limpeza dos poros, ficou com borbulhas na «boquinha do corpo» e as axilas não param de sangrar.

Que raiva!

As galdérias nem sequer precisam de sexo, ok? elas já têm sexo a todo o instante! vão na rua e todos os homens parece fazerem sexo com elas ao mesmo tempo! sente-se no ar aquele odor suado que lhes molha as cuecas e escorre quente pelas pernas... Deus! que vergonha! que nojo!... como se atrevem? porque podem as putas ser putas sempre que querem e uma gaja séria não pode nem sequer por um bocadinho?!

Não é fácil ser séria. E depois começam os anos a pesar, mais as desculpas estafadas de que «a ternura dos quarenta» é que é e essa treta toda, os pais a chagar a toda a hora, os grandes amores a bazar no dia seguinte e as amigas, essas falsas! essas putas!, a gozar que nem umas perdidas.

Esquecem-se de que uma senhora séria tem mais que fazer!

Uma senhora séria, apesar de dizerem que foi incapaz de segurar o seu casamento, é muito bem capaz de segurar uma relação de amor com um cão ou um gato a quem se dedica de alma e coração e a quem nada falta. Uma senhora séria não anda por aí bêbeda aos tropeções nem é de «noitadas». Prefere ficar «no seu cantinho», sossegada, a falar com os cães e os gatos, a discutir com os pais o sexo dos anjos e a rezar pela alma das gajas que andam por aí «perdidas» e cuja última morada é certamente o Inferno. Uma senhora séria tem mais o que fazer: tem de andar atenta ao que o ex-marido faz, o que dá imenso trabalho, tem de chorar, tem de andar atenta ao que as putas fazem, o que dá imenso trabalho, tem de chorar, tem de trocar impressões com as amigas sobre todos aqueles «homens certos» que ela deixou escapar na vida, o que dá imenso trabalho, tem de chorar... enfim! não é fácil, como já disse, ser séria e no meio disto tudo nem tempo há, realmente, para abrir as pernas e pensar em sexo; e mesmo que houvesse, sinceramente, nesta altura do campeonato a quem recorrer sem cair no ridículo?! 

Sejamos lúcidos: deixem as putas ser putas e, por favor, entendam que é uma benção divina que as senhoras sérias continuem a ser sérias. 

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