segunda-feira, junho 25, 2007

sem razão...


(Três Poemas de Carlos Drummond de Andrade)


"As sem razões do amor"


Eu te amo porque te amo.

Não precisas ser amante,

e nem sempre sabes sê-lo.

Eu te amo porque te amo.

Amor é estado de graça

e com amor não se paga.


Amor é dado de graça,

é semeado no vento,

na cachoeira, no elipse.

Amor foge a dicionários

e a regulamentos vários.


Eu te amo porque não amo

bastante ou demais a mim.

Porque amor não se troca,

não se conjuga nem se ama.

Porque amor é amor a nada,

feliz e forte em si mesmo.


Amor é primo da morte,

e da morte vencedor,

por mais que o matem (e matam)

a cada instante de amor



"Quadrilha"


João amava Teresa que amava

Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava

Lili

que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos,

Teresa para o

convento,

Raimundo morreu de desastre,

Maria ficou pra tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto

Fernandes

que não tinha entrado na história




"Ausência"


Por muito tempo achei que a ausência é falta.

E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada,

aconchegada nos meus braços,

que rio e danço e invento exclamações alegres,

porque a ausência, essa ausência assimilada,

ninguém a rouba mais de mim.

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