sábado, outubro 02, 2010

já que não és minha...!




1.
Ontem, sexta-feira, António Rodrigues, viúvo, construtor da construção civil, matou a tiro de caçadeira a sua companheira, Paula, de 33 anos, e Bruno, o seu enteado, de 12 anos.
A tragédia aconteceu em Janes, Malveira da Serra, Cascais, e o assassino suicidou-se em seguida com a mesma arma.
Mãe e filho foram encontrados sem vida, deitados cada um no seu quarto e nas respectivas camas, na casa onde todos viviam.

2.
No dia anterior, em Albufeira, na Torre da Musgueira, Pedro Almeida, de 22 anos, 'barman', esfaqueou mortalmente a sua ex-namorada, Stephanie, uma jovem francesa da mesma idade, de quem estava separado há três meses.
Um vizinho que assistiu ao crime, ouviu o Pedro dizer «já que não és minha, também não serás de mais ninguém», enquanto a rapariga se debatia e gritava por socorro em francês.

Reflexão:
Já por várias vezes apelei aqui neste blog para não andarem por aí a matar as gajas. Sempre ouvi dizer que «quem não quer põe à borda do prato» e este ditado pode muito bem aplicar-se às relações entre as pessoas que dantes se queriam e depois já não se querem. Todos os dias ou quase todos os dias há gajos a matar gajas e isto tem de terminar de uma vez por todas. Os Tribunais deviam ser mais severos nas penas a aplicar aos fdp que matam namoradas, companheiras ou/e esposas, porque são estas, reconhecidamente, as vítimas mais inocentes e mais confiantes. Apesar de ser contra a pena de morte, estas notícias levam-me a cogitar se esta malta tresloucada não merece morrer de imediato, sem custos em Tribunais, e da mesma forma que mataram.  Eu sei que há gajas simplesmente horríveis, «nojênticas», uma putas até, se quiserem, mas também sei que o único modo de proceder para com elas é largá-las de imediato e deixá-las seguir as suas vidas do modo que elas desejarem. Mandá-las «dar uma volta ao bilhar grande». Esquecê-las. Dar-lhes «silêncio rádio» para o resto da vida. Fazer com que esbarrem na couraça da nossa indiferença. Matá-las, não!... Não se devem matar as gajas. Elas têm mães e pais e famílias e amigos e todos vão sofrer com a sua perda; algumas têm filhos que depois ficam sozinhos ao Deus-dará; e, finalmente, se outras razões faltassem, o que duvido, bastaria pensar que elas vão acabar por encontrar um fdp pior do que nós e que isso é vingança mais do que suficiente.
Matá-las, repito, não, por favor!...
Não é pelo facto de não haver muitas, que as há, sim, aos milhões e milhões por esse mundo fora e, graças a Deus, estão sempre a nascer como os cogumelos na floresta! O problema, o real problema derivado da questão, é que nunca há - nem haverá! - uma gaja como a gaja que morre! E isto é assim, comprovadamente, não por uma mera questão de ADN, que também é, mas  porque basta perguntar a uma Mãe ou a um Pai se alguém no mundo pode vir a substituir a filha deles seja em que circunstância for...! Não pode! E todos dirão exactamente a mesma coisa: nada nem ninguém substitui um filho para os seus Pais!...
Dinheiro? Penas pesadas? Cadeia para toda a vida? Morte,até? Não, não e não! Nada disso compensa a dor atroz que fica para o resto da vida naqueles que cá ficam a chorar a perda. 
Quando se mata uma gaja, não é apenas ela que morre: morre o Pai, a Mãe, morrem os familiares e os amigos; e, deixem que vos diga, morre também uma bocadinho de todos nós, gajos que, não obstante todos os defeitos,  sempre gostaríamos de olhar este mundo como um mundo melhor, mais seguro e mais feliz, a legar aos vindouros.


«Já que não és minha...»!... Mas que merda de conversa é esta? Então, a gaja não tem o direito de ser de quem ela quiser? Não é inalienável o direito de nos deitarmos com quem quisermos, de namorarmos quem quisermos, de amar quem nos dê na gana, de enfiar a língua numa boca à nossa escolha? 
Não sei qual é o sentimento dos outros, confesso, nem me poderei colocar no lugar de ninguém. Agora, uma coisa é certa, e penso que já o disse aqui: um fdp que me matasse uma filha minha não voltaria a matar mais nenhuma nem teria de passar pelas maçadas de julgamento algum porque eu estoirava-lhe os miolos. No segundo imediato. 
Digam o que disserem, um Pai ou/e uma Mãe têm os seus direitos.

4 comentários:

eduardo disse...

Boa !
ep

Anónimo disse...

Caro herc.

O problema do mundo é não ser mais relativista. Eu sei, eu sei: o relativismo é mau, dizem, porque a ideia de que os valores dependem de meras escolhas individuais, sem nenhuma justificação externa ou racional, é uma fraqueza epistemológica e ética da maior gravidade. Mas eu refiro-me a um relativismo ligeiro, a um relativismo banal, ao relativismo das coisas menores. Como um tempero que se coloca sobre o prato da vida, só para dar algum sabor mortal a tudo o que fazemos e sentimos. É um relativismo suave que ensina que nada tem uma imporância tão absolutamente esmagadora quando o fim é certo e o esquecimento também.

Todos os anos várias mulheres são assasinadas pelos seus namorados ou maridos. Existem cenários macabros de homens que apontam uma arma e disparam sem pestanejar em plena via pública. O resto é igualmente macabro: estrangulamentos, espancamentos, envenenamentos. O diabo a quatro. Motivos? Passionais, sempre passionais: o homem descobre, ou suspeita, que a mulher não é casta. E, num gesto de loucura, comete a loucura.
Vejo estas histórias pergunto aos meus neurónios e eu seria capaz disso: amar uma mulher ao ponto de a matar por despeito? E a resposta é negativa. Tudo por causa do meu relativismo suave, que me acompanha dia após dia como um animal de estimação. Tenho as minhas fúrias, como qualquer pessoa racional. E existem momentos de um desespero tão profundo, e tão medonho, que chorar pode ser um luxo. Mas mesmo quando o demónio se intromete na pacatez dos meus dias, existe um lado de mim que ri dele. Como se o espírito deixasse o corpo e, planando sobre a carcaça, contemplasse o absurdo da minha condição. O absurdo da condição humana. E uma voz invisível me segredasse ao ouvido: será que vale a pena, companheiro? Será que vale a pena tudo isso quando tu estarás morto no futuro médio? E, depois da voz, vem a imagem: como num filme de Bergman, eu, velho e cadáver, em caixão aberto.
O relativismo liberta-nos para fazer o mal, como acreditava Dostoiévski? Não creio. Em doses temperadas, o relativismo é um convite para não fazermos o mal. Ele esvazia o nosso PATÉTICO EGO como uma agulha que fura o balão de uma criança. E é sobretudo útil em matéria de amor: somos amados, magoados, atraiçoados. Acreditamos que, depois do abandono, teremos uma dor inultrapassável, que se vai prolongar pelos séculos seguintes. Mas a verdade é bem mais triste e, paradoxalmente, bem mais feliz. Tudo passa. A dor vai diluindo-se em tristezas menores, que ficam como o pó esquecido nos cantos da casa. E certo dia descobrimos que o tempo cobriu tudo com invisíveis mortalhas; o passado é o porto de onde a nossa embarcação já se afastou há muito. Vemo-lo ao longe, por entre a neblina. Mas não há regresso.

E aqui vai o meu conselho:

Caro Homicida se achas que a dor de hoje te autoriza a tudo, lembra-te que ÉS NADA e que A TUA VIDA SERÁ NADA. E festeja essa certeza com a alegria sincera dos náufragos resgatados.

Anónimo disse...

Abraço

Migas.

Anónimo disse...

finalmente algo de bom neste blog ............. concordo com o que está escrito e até assino por baixo