domingo, fevereiro 17, 2008

excelentíssimo juíz

Há já uns anitos, ao cruzar os corredores do Tribunal Judicial de Viseu, fui chamado por um dos Juízes ao seu gabinete.

- Veja bem que erro ortográfico grosseiro acabei de encontrar nesta petição!!!...

Eu olhei e estampado logo na primeira linha do requerimento lia-se: "Esselentíssimo juiz".

Irónico, o magistrado atirou-me:

- Por acaso este advogado não foi seu aluno na Faculdade?

- Por acaso, foi sim - reconheci.

E acrescentei logo de seguida:

- Mas onde é que está o erro ortográfico grosseiro a que V. Exª se refere?

O juiz mostrou-se surpreso:

- Ora... que raio!... então o meu caro advogado não vê o erro?! não me diga que também não sabe como se escreve a palavra Excelentíssimo...????

Calmamente expliquei ao Juíz a minha teoria:

- Acredito que a expressão possa significar duas coisas perfeitamente distintas!... Se o meu distinto colega desejava vincar a excelência dos serviços de V. Exª, é claro que o erro ortográfico é efectivamente grosseiro.

Repare V. Exª, todavia, que se o meu antigo e distinto aluno pretendia aludir à morosidade da prestação laboral de V. Exª, então não há erro e o equívoco reside apenas na junção inapropriada de duas palavras.

Tenho para mim, e V. Exª concordará certamente, que o correcto seria escrever "Esse lentíssimo Juiz"...

- Depois desta nossa conversa, aquele magistrado nunca mais aceitou, com naturalidade, o tratamento de Excelentíssimo Juiz sem perguntar primeiro:

- "Devo receber a expressão como extremo de excelência ou como superlativo de lento?"


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