quinta-feira, setembro 13, 2007

sinto-me triste...


Chamava-se Maria Helena Campos, tinha 40 anos e era economista.

Morava aqui bem perto, na periferia, numa vivenda em Santeago (Viseu).

Na tarde da passada terça-feira matou os seus dois filhos, Maria João, de 11 anos e Filipe, de oito anos, e de seguida pôs também termo à sua própria vida.

Na cidade não se fala de outra coisa. Como se alguém pudesse falar do que vai dentro da alma de cada um...

Helena tinha uma depressão. E eu imagino que quando os amigos lhe perguntavam "o que é que tu tens, afinal?", ela nem sequer conseguiria ser convicta na sua resposta. É que é extremamente dificil "explicar" aos outros uma doença que "não se vê", que não é como um abcesso na boca ou como uma perna partida... É dificil responder, dia após dia, mês após mês, ano após ano (há depressões que duram vidas, mesmo acompanhadas clinicamente!), "não tenho nada... sinto-me triste, mais nada".

Lidar com a incompreensão daqueles que nos rodeiam - família, amigos, conhecidos, etc... - é o que mais dói. É debilitante. Mata aos bocadinhos.

Depois, em Portugal, convenço-me disso, grande parte da classe médica não está devidamente preparada para este tipo de doença,

-("Doutor, não consigo levantar-me de manhã para ir às aulas... e isso está a pôr os meus pais furiosos comigo!..."

-"Eh lá, pá! tens de ser um homenzinho, pá!... Não podes ficar na cama a dormir como um preguiçoso, pá!... Vou-te dar um Alprazolam e vais ver que daqui a dias isso já não é nada!...")

sendo que alguns até vêem nela uma "ganda tanga" para as pessoas se baldarem aos seus empregos.

(-"Vou-lhe aqui passar uma baixa... quantos dias é que quer?!...")


P.S. - Li ontem no "Correio da Manhã" as declarações de um psiquiatra a propósito. Dizia ele que bastaria um mês com a medicação adequada para anular a tendência suicidária. E dizia, também, que a morte dos filhos de Helena foi uma "morte por misericórdia"... na realidade, a Mãe convenceu-se de que os estava a proteger de um sofrimento tão profundo e inevitável como o dela própria. A morte "libertou-os" como a "libertou" a ela.

Vá lá explicar-se isto a quem não percebe nem quer perceber.


"ELA VESTIU A CAMISOLA DA EMPRESA"


Licenciada em Economia na Universidade de Coimbra, Maria Helena trabalhava há 15 anos na empresa de camionagem Berrelhas. Primeiro em Penalva do Castelo, depois em Viseu. Era vista como o “cérebro gestor” da empresa e uma “exímia contabilista” ao ponto do patrão a considerar “peça fundamental”.

“Nunca se queixou do trabalho. Ficava a trabalhar para além da hora por vontade própria e só para deixar tudo direitinho”, referiu ontem Nélson Almeida, proprietário da Berrelhas. O empresário diz que só nos últimos dois anos é que a gestora o informou dos problemas de saúde. “Ela escondeu-os durante muito tempo. Desde o passado mês de Abril é que tudo se complicou até ter ficado de baixa. Foi consultada pelo neurocirurgião Lobo Antunes e todos acreditávamos que ia recuperar e voltar ao trabalho no final deste ano”, disse Nélson Almeida, também ele incapaz de desconfiar “que ela tivesse coragem para fazer isto”. “Aquilo que ela mais temia era morrer sem conseguir criar os filhos”, recordou.

(in Correio da Manhã, Luis Oliveira)

Obs:
- 20 por cento da população portuguesa sofre de depressão, segundo o Portal da Saúde, da responsabilidade do Ministério da Saúde.
- 1200 portugueses morrem devido a depressões em Portugal, segundo as estimativas do Ministério da Saúde. Um em cada cinco utentes dos cuidados de saúde primários está deprimido.




Em tempo: Por mero acaso passei no fórum "Clube Manager Portugal" e o assunto do momento era este mesmo. Em meio de algumas enormidades mais ou menos inóquas, diz um: - "é graças a estas p*** que eu espero bem que haja um inferno"; outro vocifera: - "Nenhuma depressão nervosa justifica isto"; e um terceiro: "Parece que estamos na América".

Talvez se possa dizer que há quem se suicide para não ouvir comentários deste género.



Você sofre de depressão?

Como outras doenças, a depressão tem certos sintomas. Uma vez que esses sintomas são reconhecidos, podem-se tomar providências para o tratamento. Faça o seguinte teste para saber se você (ou alguém da sua família ou um amigo) pode estar deprimido. Durante a maior parte das duas últimas semanas, você:
Sentiu-se triste, preocupado ou aborrecido?
Sentiu que sua vida era monótona, sem possibilidades de melhorar?
Tem tido crises de choro?
Ficou irritado com coisas pequenas que antes não o perturbavam?
Não se diverte mais com seus passatempos ou actividades que antes o alegravam?
Sentiu falta de autoconfiança ou sentiu-se fracassado?
Tem dificuldade para dormir ou tem dormido muito?
Tem dificuldade de concentração ou de tomar decisões?
Tem menos interesse em sexo do que antes?
Tem pensado em morte e/ou suicídio?
Se algumas respostas foram afirmativas, este possivelmente é um quadro depressivo. Mas para afirmarmos que o paciente está deprimido, temos de afirmar que ele sente-se triste a maior parte do dia e quase todos os dias, não tem tanto prazer ou interesse pelas actividades que apreciava, não consegue ficar parado, e pelo contrário, movimenta-se mais lentamente que o habitual. Passa a ter sentimentos inapropriados de desesperança, desprezando-se como pessoa e até mesmo culpando-se pela doença ou pelo problema dos outros, sentindo-se um peso-morto na família. Com isso, apesar de ser uma doença potencialmente fatal, surgem pensamentos de suicídio. Esse quadro deve durar pelo menos duas semanas para que possamos dizer que o paciente está deprimido.


"O suicídio faz com que os amigos e familiares se sintam seus assassinos".
(Vicent Van Gogh)

3 comentários:

Anónimo disse...

Sim , penso que tens motivos para sentir triste , tu e todos nós ...
Este é um assunto mt tabu no nosso país , a maioria das pessoas não é capaz de entender e/ou aceitar que a depressão é uma doença , grave! Uma doença silenciosa , que escapa aos olhos de muita gente. É muito dificil lutar contra uma depressão , é muito dificil responder pelos "nossos" actos ... é muito dificil sentir que se está só , pois nem os familiares mais próximos entendem e apoiam ...

susana disse...

Nem imaginas como entendo, apesar de nunca ter enttrado assim numa depressão, mas muits vezes sintimo-nos tão injustiçados, tão sozinhos e abandonados. Os mais próximos ão os primeiros a não entenderem e a não ajudarem. Quem é forte, acaba por passar por cima, quem é fraco acaba assim....muito triste!
beijos para ti, por seres uma pessoa tão lúcida e sensível!

Anónimo disse...

Uma m******* nesse país. Depressões, desemprego, incerteza no futuro etc.etc.etc..

Todos os dias, nesse país,ocorrem casos estranhos!

Suicídios, pum-puns (nas discotecas) assassinatos encomendados; pinga amor, doente, que degola a namorada, outro manda cinco tiros na mulher e manda-a para a presa da pedreira. F********-se anda tudo deprimido nesse país!